Eu, respiro.

A hora de escrever aguça aos poucos o que resta da angústia no peito. Colecionei rancores durante a vida, rabisquei as dores igualmente. Hoje tenho um forte impulso de escrever.
Sabe aquelas cartas não enviadas? Sabe aqueles abraços nunca dados?
Estou dizendo justamente desse sentimento que fica entre a idealização e os passos para realidade. Entre um campo e outro, tudo confunde num desejo exacerbado de ser visto, como realmente se é.

Escrevo muitas utopias... É tão difícil conseguirmos chegar nesse encontro. Porque não conseguimos ver o outro como ele se é, nem mesmo nos mostramos como somos. E nesse empasse de cegos, esqueço que nada é mais do que deve ser. Tenho aceitado a vida. Engraçado dizer isso, mas tenho.

Muitas vezes quis desesperadamente ser vista com minhas entranhas a carne viva, ou que meus intestinos degolassem toda a hipocrisia que insisto, fazer. Não quero dizer que me conforto com a dor do mundo, a extrema pobreza, desigualdade sociais... não. Não me conforto com a doença que abraça meu berço, que é dado de geração em geração. Não conformo com o envelhecimento, este cheio de paranoias e medo de ser uma pessoa dependente. Talvez não me conforme com nada e quero construir uma áurea intelectual, que combina muito bem, com a imagem que gosto de passar. Gosto de ser vista assim. Gosto de ser verborrágica e ter conversas inteligentes para enfiar conceito, onde nem eu mesma sei onde. Mas a questão, é desesperadamente venho com uma vontade incontrolável de escrever. Escrever sobre tudo.

Eu acordo aos sábados com saudades, encho meu olhos de orgulho. Agradeço quem eu sou. Aceito a vida. São exercícios diários para me amar. Egoisticamente me amar. Quero aprender com a alteridade. Não quero ser silenciada das angústias. Quero me curar. A doutora Alessandra reconhece meu progresso. Quero gritar e correr. Quero correr. Quero jogar tudo para o alto e ir embora só com uma mochila. Tenho medo se terei fome, medo de ficar sozinha. Às vezes me sinto abandonada. Onde eu mesma me deixei? Onde está eu? Procuro no vazio do som das teclas do computador.

Sei  o que estou fazendo. Estou escrevendo. Palavras automáticas que aprendi durante a minha primeira graduação a riqueza do instante, onde reescrevo crises semelhantes a qualquer um.

Tenho aceitado a vida.

Depois da aceitação virá o quê?

Tive um início de crise de ansiedade essa semana. Deitei no colchão e todos os fantasmas vieram para me sacudir. Não chorei. Não fiquei agressiva. Não machuquei nada, nem eu mesma. Respirei. Muito. Respirei forte. Respirei conscientemente e a imagem da minha amiga, Jéssica veio sorrindo para mim. Somos amigas desde que eu tinha 11 anos de idade. A distância não nos separa. E vou continuar a respirando. Hoje eu respirei de novo e de novo e de novo.

Tenho respirado a vida.

Depois da respiração o que virá?

Vejo a vida ampliar suas possibilidades pra mim. Eu vejo. Eu sinto. Eu sou. Eu, respiro.

artista desconhecida. 

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