tradução simultânea de sentimentos.

tenho vazado nas esquinas dessa rua 

como uma prece muda 

dançando pelos cantos, 

os desesperos da vida crua. 

- preciso segurar a fala 

para não tropeçar 

nas rotas engasgadas 

e revelar assim, meu eu nua. -

transbordo pelas ruas 

como uma correnteza 

em caminho ao córrego. 

não há espaço, 

apenas um sentido. 

não sinto que pertenço a esse rio.

tenho vazado tristeza nas esquinas, 

no mercado, na padaria, na fila da terapia. 

sinto que carrego as mãos ao peito, 

para que meu sentimento não escorra.

numa tentativa falha de segurar a tempo, 

levo minhas mãos como se tivesse 

uma peneira a frente do meu corpo, 

tento reconciliar o passado e o presente.

o tempo virou nessa manhã, 

deixou meus pensamentos nublados 

sem sol nas palavras.

o tempo revirou nessa tarde 

sinto na minha cabeça 

as tempestades ao vento 

de menina a mulher: 

ainda choro por essa angústia. 

nem sei se é assim que Deus quer. 

eu acho que não. 



dm.


fotografia por mim, no meu tempo de adolescência. cidade de caratinga/mg - a árvore.


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