Jaider ainda vive!

Ontem Jaider Esbell completou sua passagem. Não acredito que foi suicídio. Jaider ainda vive, vive em nós. Dançarei para você, dançarei seus quadros. Tudo nos comporta e nos compõe como criadores de nossas histórias. Ao longo do curso em arte educação e contato com outros professores e propostas pedagógicas, nasce forte o desejo de aproximação e retomada com a cultura indígena, seus modos de resistência e politica da natureza. Os quadros de Jaider são uma dança cósmica, dos ninhos dos pajés aos corações do mundo. Eu chorei como se fosse uma amiga próxima. Conheci suas obras esse ano. Como as pessoas marcam nossa trajetória. Hoje li uma postagem da Katu Mirim, era um desabafo como estava difícil para Jaider visitar seus parentes e ele sentia rodeado de pessoas estúpidas. Como somos tão mesquinhos com os artistas, né?! 

Ontem fiz minhas orações, pedi uma boa passagem. Senti que ele me observava. Foram dois momentos que ele olhava para baixo, onde estava deitada. Vestia um manto, estava sério e só olhava. Fiquei bastante em silêncio, fiquei muito triste em não ter vivenciado o que poderia, na minha alucinação ao seu lado. Seus quadros são pura dança. Quero movimentar seus traços. É uma grande perca para o mundo da arte e da cultura. Há uma banalização da morte, acho que é um projeto para esquecermos as mortes por covid-19, a terra está ferida, e nós continuamos a seguir os rumos tão tristes de nosso cotidiano mundo pequeno. Sinto tanto sua falta, mestre! Mesmo não ter te conhecido, eu sinto. 

Ontem eu não sei... hoje eu acho que talvez saiba um pouco, mas continuo sem saber. Não foi suicídio, nos o matamos, nosso capricho matou um artista. Ninguém sabe o que passa dentro de uma pessoa, ninguém sabe como os espaços institucionais podem adoecer um artista, ninguém sabe como a mesquinharia pode matar muitos. Não foi suicídio. 

Ontem eu ouvi que era para eu continuar sendo uma boa pessoa, continuar fazendo arte. Pode ser mais uma alucinação ou não. Eu ouvi sua voz! Vá em paz meu Mestre! Continuo dançando seus olhares por aqui. 


De onde surgem os sonhos”, 2021, Acrílica e posca sobre tela, 112 x 232 cm Jaider Esbell


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